segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Tenso: eu cozinhando.

Eu não sabia o quão estranho é não saber cozinhar antes de precisar de tal habilidade.
Há umas três semanas ou um mês, não me lembro, Júlia, uma amiga minha que também está fazendo intercâmbio na Finlândia, brasileira de Aracaju, veio pra Lappeenranta e juntas preparamos o almoço do sábado. cozinhei feijão desde a quarta-feira anterior porque minha família não tem panela de pressão... (fugindo do assunto, outra cosa estranha é que eles não tem liquidificador e os secadores de cabelo não fazem barulho). Mas então. Cozinhei sem botar nenhum tempero por enquanto, pra amolecer. Eu super nervosa olhando diariamente a receita que a mnha mãe mandou numa mensagem do Facebook até o dia de fazê-lo.
Júlia chegou na quinta e, dentre outras, nos aventuramos na cozinha. Abri o lap top sobre a bancada, a mensagem lá... enquanto Júlia morria de chorar picando as cebolas.



Eu trouxe feijão preto brasileiro tipo 1, selecionei-os eu mesma e usei apenas 500g do saco de 1kg, que acho que foi até demais. O feijão que se vende na Finlândia é da China e não precisa ser cozinhado na panela de pressão ou mais que 1,5h de fervura. De qualquer forma, é um prato que dificilmente se encontra na mesa de uma família finlandesa.
Tinha Coldplay demais no meu lap top e tivemos que trocar pelo repertório musical da Júlia. Duas semanas depois eu já sei cantar "Eu te puxo e tu me lambe" de cor e salteado kkkkk...
O arroz também foi meio que uma novela. O arroz daqui não é branco branco. As pessoas têm preferência pelo integral (pelo menos na minha família). Normalmente não sinto o gosto do sal no arroz que minha família faz, descobri posteriormente que isso era por causa dos temperos. O modo brasileiro de cozinhar arroz leva alho e por vezes cebola (principalmente na família da qual eu venho).
Chamei o Arthur, o outro intercambista brasileiro do Rotary que mora em Lappeenranta e Santiago, colombiano, também intercambista. Júlia fez uma farofa que eu amei - já disse que foi o que salvou o almoço. Pra acompanhar pedimos pros meninos comprarem um frango assado pronto que eu e Júlia encontramos no supermercado (mercadinho kkk) durante aquela manhã. Juro que foi um momento de "me belisca", porque até o cheiro daquela seção do super lembrava o Brasil.

Só pra ressaltar, aqui não existe açougue. É tudo plastificado a vácuo. RISOS.


Na Finlândia os sucos são vendidos em caixinhas. Estou aqui há mais de 3 meses e nunca vi alguém fazer um suco natural com laranja, maça ou qualquer coisa do tipo. Enfim, pedimos pros meninos comprarem uma Coca-Cola.
Infelizmente não dá pra cozinhar bem sem prática, mesmo lendo a receita e as dicas trocentas vezes. Chegou a hora de comer. Os meninos ainda não tinham chegado com o frango. Eu desesperada.
Minha mãe e meu irmão já estavam preparados pra ver qual era. Meu pai não estava em casa então não almoçou conosco. Uma das coisas a que ele é alérgico é feijão.
Finalmente (ou não) a hora chegou e sentamos à mesa. Comecei a apresentá-los o que era o quê. Eles acharam realmente estranho tomar Coca-Cola com a comida e tomaram leite.
Minha mãe observou nossos pratos e copiou o nosso prato.
Eu estava bastante nervosa e não consegui saborear a comida muito bem. Estava sem sal, isso eu lembro bem. Devo admitir que foi traumático o silêncio durante o almoço. Não sei se quero cozinhar de novo... mas o bom é que tava comível.

Cozinhamos muuuito, companheira!! kkkkkk
Mesa posta e eu nem sabia se tinha estômago ainda pra sentir fome.



O RESULTADO DA OBSERVAÇÃO E PRÁTICA: Mas honestamente? É difícil agradar o gosto finlandês com as maneiras brasileiras. Os doces brasileiros são muito doces e dentre os temperos usados pelos finlandeses na comida, a maioria se trata de diferentes tipos de pimenta. A comida finlandesa ou é com pouco sal ou apimentada. A salada brasileira leva sal, vinagre, azeite; a finlandesa, não. Andei colocando sal na cenoura ralada e minha mãe achou super excêntrico. O tomate também é sem sal. Eles têm preferência por molhos prontos com aquele sabor levemente adocicado. Mas em casa, a salada é comida sem nada, assim como "a batata de cada dia nos dai hoje" que eles apenas poem no fogo, fervem (com casca, para manter as vitaminas) e... se põem sal, eu não sinto. Na hora de comer é que tiramos a casca, isso quando é necessário, já que a batatinha de verão tem uma casca tão fina que não se tira. Embora existam aqueles que tiram...
O povo finlandês não vive sem batatas. Andei perguntando pro meu pai daonde vêm as batatas no inverno, quando não há condição de colhê-las. Durante o outono as batatas são armazenadas aos montes e mantidas em boa circulação de ar, para que não estraguem com o tempo e durem para alimentar a população durante o inverno. Fica a dica: todas as sopas da finlândia têm batatas.


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